quinta-feira, 27 de junho de 2013

Rosto


A manhã estava embrenhada
Numa estranha
E densa neblina.
Os meus olhos
Nada viam
Para além de uma vasta
E infinita rua.
Era a tua rua.
Pelo menos até ao dia em que te conheci.

Fui avançando
Rua a cima
Pé ante pé
Para não te despertar
Desse sono profundo
Em que ontem adormeceste.

Na rua
Vozes sem alma
Encoavam no nascer do dia.
O sol despertava
E a neblina
Há pouco densa
Deixava agora a nu
As arestas das esquinas
Dobradas pelas ruas.

Número 78.
É a tua porta.
Antes que conseguisse esboçar qualquer gesto
Surges tu
Coberta com um manto branco
Branco como a neve
Quente como o sol.
Não articulei uma única silaba.
Os teus olhos
Penetravam na minha mente
Os teus lábios assobiavam
Aos meus ouvidos
Aquela musica.
Sim essa mesmo.

De sorriso preso no rosto
Toquei o teu cabelo.
Coloquei a mão
No teu pescoço
Dei mais um passo
E bebi as lágrimas
Que humedeciam
Os teus lábios
Frescos, doces e aveludados.
Como que por artes magicas
Tudo o resto se reduziu a uma insignificância menor.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Hoje

Porque hoje não sei se me apetece acordar.
Tão pouco sei se quero adormecer.
Rodeiam-me as trevas flamejantes,
os olhares indiscretos,
as palavras malignas,
as frases por dizer,
o odor da morte,
o desejo do infinito.

Porque há dias que sofrem metamorfoses inexplicáveis.
Mas sentimo-las e isso doí.
Mais que a dor é aguentar a razão do inexplicável.
E não falo de nada nem ninguém em concreto mas de todos em particular.
Vivemos num mundo sujo e repleto de doenças incuráveis.
Pior ainda,
pessoas pseudo inteligentes e intelectuais,
sofredoras de um constrangimento recalcado e que a todo o custo não querem lembrar.

Hoje, mais do que nunca,
agora é o momento de renascer e acreditar,
de fazer acontecer,
de nos apaixonarmos,
de abraçar,
querer,
beijar,
desejar,
sentir um arrepio na pele.
Mais do que hoje,
ontem ou amanhã,
agora é o momento certo.

Não procuro protagonismo.
Não.
De todo.
No entanto não sei se quero adormecer.
Honestamente não sei.