quinta-feira, 27 de junho de 2013

Rosto


A manhã estava embrenhada
Numa estranha
E densa neblina.
Os meus olhos
Nada viam
Para além de uma vasta
E infinita rua.
Era a tua rua.
Pelo menos até ao dia em que te conheci.

Fui avançando
Rua a cima
Pé ante pé
Para não te despertar
Desse sono profundo
Em que ontem adormeceste.

Na rua
Vozes sem alma
Encoavam no nascer do dia.
O sol despertava
E a neblina
Há pouco densa
Deixava agora a nu
As arestas das esquinas
Dobradas pelas ruas.

Número 78.
É a tua porta.
Antes que conseguisse esboçar qualquer gesto
Surges tu
Coberta com um manto branco
Branco como a neve
Quente como o sol.
Não articulei uma única silaba.
Os teus olhos
Penetravam na minha mente
Os teus lábios assobiavam
Aos meus ouvidos
Aquela musica.
Sim essa mesmo.

De sorriso preso no rosto
Toquei o teu cabelo.
Coloquei a mão
No teu pescoço
Dei mais um passo
E bebi as lágrimas
Que humedeciam
Os teus lábios
Frescos, doces e aveludados.
Como que por artes magicas
Tudo o resto se reduziu a uma insignificância menor.

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