segunda-feira, 3 de março de 2014

Mea Culpa

Hoje remeto-me aos factos. Nada mais do que isso. Nem sempre o faço, Mea Culpa. Hoje, traduzido à letra, seria apenas mais um dia no calendário que já se alonga para lá de um inverno rigoroso. Meus caros, entendam que "hoje" pode ser um qualquer dia. Será sempre aquele que tu, e eu, e sei lá quem mais, quisermos. Quando desfolham o jornal, uma revista, ou mesmo um livro, leiam sempre aquelas letras pequeninas, mesmo no fundo da página. As entrelinhas. É nelas, na maioria das vezes que corre o sangue que nos faz viver. Para bom entendedor meia palavra basta, e vastas (não) são as palavras que hoje, amanhã ou depois, utilizarei. Corre o tempo, e nós atrás do tempo. Nós, eu, tu, o vizinho do 2º Esq. que saí todos os dias apressadamente, sempre à mesma hora. Isto é um facto, vários aliás. E é disto que a vida trata. Factos...
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Apago a luz que ilumina as sombras cinzentas da sala e acendo o pequeno candeeiro, cor de vidro de onde emana um cheiro forte a petróleo. Foi um presente da minha querida avó. Pego na velhinha maquina de escrever, dominada pelo pó acumulado, colo a folha em branco, que rapidamente ganha vida. Escrevo o teu nome. É segredo. É um segredo só meu... 
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Coloco a cabeça sobre o tampo escuro da mesa, e em silencio fico a escutar o que aquele piano, no canto da sala tem para me dizer. Os mais atentos sabem que não se trata de um piano vulgar. Não. Não porque seja meu, mas porque ao contrario dos que conheço, este não tem teclas. Também de pouco me serviriam. Apesar de apaixonante o seu som, não nasci dotado de talento para o usar. Ainda assim decidi leva-lo comigo. E como ele me preenche todos os dias de cada vez que declama melodias, notas soltas cheias de improviso...
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Olho para o relógio. É tarde. Mas o que é isso de ser tarde? O que é isso de ser longe demais?
O que é isso de não tenho tempo? Recorro às linhas, as tuas linhas, na busca de uma resposta. Nunca fui um grande aficionado da leitura, não, mas tenho uma parede, enorme, como o teu sorriso, preenchida com os ditos. Decidi que, aquela parede seria preenchida assim. Sem tinta, apenas com títulos, capas e contra capas, letras, linhas que se transformam em textos. Não é uma simples decoração, é mais uma reserva de memorias. Sim, também constam os diários que em tempos escrevi, e não me venha com merdas que isso são apenas coisas de meninas! Os diários, pois claro...
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Humedecendo a ponta dos dedos com o suco dos teus lábios, apago o pequeno pavio e volta a escuridão à sala, a minha sala, onde figuram um piano, aquele de já vos falei; uma parede pintalgada por livros coloridos, e cartas de amor também. Sim que eu em tempos mereci, e jaz uma maquina de escrever, velhinha como as rugas que me apoquentam e não deixam disfarçar que, enfim, eu como todos nós não caminhamos para novos. É o tempo que corre atrás do tempo...
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Factos. E desses não podemos fugir. Nem do doce, amargo, agri doce da vida.
Um sorriso. Cor de avelãs e preenchido com o azul do mar. Ou será celestial, o azul?
Basta isso...
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Até amanhã, porque hoje já passou.

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